domingo, 1 de junho de 2014

MATRIZ TUPI - SOCIOLOGIA 1 ANO

SEGUE ABAIXO O TEXTO PARA AUXILIO  DA AVALIAÇÃO FINAL DE SOCIOLOGIA DO 2º BIMESTRE

O Povo Brasileiro 1. - A Matriz Tupi.

Darcy Ribeiro abre este primeiro capítulo do vídeo, perguntando se alguém consegue imaginar o mundo, daqui a cinquenta anos, com base na observação do que ele foi, cinquenta anos atrás. Faz isso, alertando-nos de que o futuro precisa ser construído, o futuro precisa ser inventado. Daí fala do primeiro povo componente da etnia brasileira, a nossa matriz indígena, a matriz tupi. Ressalta que o Brasil índio já existia há mais de mil anos no 1500, quando houve o encontro com os descobridores. Destaca que estes índios tinham na alegria e no gozo de viver a sua grande marca.
Matriz Tupi abre o primeiro capítulo do vídeo. Uma maravilho. A harmonia entre o homem e a natureza.
Aziz Ab'Saber e Washington Novaes narram a descrição dos povos indígenas que aqui habitavam, bem como as suas principais características.Os índios basicamente eram os tupinambás. Não havia, no entanto, uma nação tupi, havia uma miríade de tribos, totalmente auto suficientes em sua interação com a natureza. Estavam se iniciando na fase da agricultura, domesticando inúmeras plantas e animais. Conheciam a natureza em detalhes, conhecendo plantas e animais e conhecendo os diferentes usos a fazer. O curso dos rios determinava as suas moradas.
Da convivência com os índios, nasce a dedicação de Darcy a eles e a preocupação em dar um destino ao povo brasileiro, amálgama das miscigenações genéticas e culturais.

Darcy nos fala da matriz Tupi. Conviveu por dez anos com os índios, que se tornaram a sua maior paixão.
Os tupinambás viviam em função das guerras e das festas. A guerra  era por conquista de melhores espaços. Não escravizavam os vencidos, já que não os integravam à sua economia. Incorporavam, isso sim, a sua força e os seus brios, em ritos antropofágicos, o ritual maior de suas festas. Jamais comiam covardes. Não havia pelejas internas, furtos ou brigas. Eram educados para a convivência a partir dos mais velhos. O poder emanava do exemplo, do carisma e da tradição. Jamais se davam ordens. Havia muitas liberdades. Casamentos podiam ser feitos e desfeitos. A homossexualidade não era vergonhosa e não era escondida de ninguém.
O índio busca o máximo da beleza na celebração de seus ritos religiosos. A força da liturgia e do sagrado.

Havia a diferença de gênero. os homens eram educados para as funções da caça e da pesca e para a fabricação destes utensílios, bem como as canoas. As mulheres eram educadas para a tecelagem, o preparo das comidas e das bebidas e das grandes festividades. Não havia praticamente diferenças entre arte e trabalho. Se realizavam nesta tarefa trabalho/arte. Na fabricação dos objetos punham toda a beleza possível e identificavam os artesãos pela beleza de seus trabalhos. O produto de sua arte marcava a identidade do artista. Também não faziam grandes distinções entre esta vida e a outra. A outra, seria uma continuidade do paraíso em que já viviam.

Iniciando o estágio da agricultura, já cultivavam a mandioca (consideravam a não necessidade de seu armazenamento como uma fábula, a de poder guardar esta comida viva), o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o amendoim, o tabaco, a abóbora o guaraná, entre outros, e faziam deles alimentos e matérias primas para condimentos, estimulantes e venenos. Conheciam e interagiam com a natureza, vivendo com ela uma relação tida como edênica.
Chico Buarque lendo trechos do Livro O Povo Brasileiro. É um privilégio ouvi-lo.

O traço mais marcante de sua cultura era a preservação de sua identidade. Na convivência aprendiam a ser índios. Era uma força que brotava de seu interior. A alegria era uma de suas maiores marcas. Viviam fazendo festas, comemorando nascimento, plantio, colheitas e  mesmo rituais fúnebres. Eram implacáveis com os seus inimigos. Na guerra havia honra, uma ética e até uma estética. A morte era natural. A tribo os vingaria. Só não cabia em sua cultura, a desonra, a fuga e a mostra de fragilidades. Darcy narra o encontro com um índio que lhe nomeou mais de 1000 parentes, tal era o valor que davam aos grupos tribais e gostavam de lembrar e serem lembrados pelos feitos em sua vida. Não tinham como se vangloriar de posses, pois tudo era comum.

Tinham tudo, mas nada possuíam. Cultivavam roças próprias, mas a terra era de uso comum. Entre as grandes heranças nos deixaram os deslocamentos rápidos e a convivência com a floresta, o banho diário, a alimentação, mas acima de tudo a sua vida integrada com a natureza e o seu espírito de alegria e predisposição para a festa. Viviam se pintando, se enfeitando, cantando, dançando e brincando. havia ricos rituais para tudo.

Quando viram os colonos chegarem em seu paraíso, imaginaram que eram os deuses que com eles vieram conviver no paraíso. Mal pensaram eles que era uma outra cultura chegando e que faria deles, meros objetos para os seus ganhos em outros valores, os valores cifrados $$$ em pau brasil, cana de açúcar, ouro ou diamantes. Uma cultura que os transformaria em ninguém, palavra que Darcy usa bastante, para designar que  com a soma desses ninguéns é que foi se formando o povo brasileiro e a ele dando identidade. Além de Darcy, participam deste primeiro capítulo, Aziz Ab'Saber e Washington Novaes, que explanam sobre o tema e Chico Buarque de Holanda a fazer leituras. No meu entender, no entanto, a mais bela descrição que Darcy faz da população indígena está em suas Confissões, quando em seu capítulo 4, conta a sua convivência com os índios. Amanhã veremos a raiz lusitana, no segundo capítulo do vídeo